sábado, 10 de março de 2012

Amor militar, minha guerra particular


Pelos prados que rastejas, pelas montanhas que escalas, por toda parte te acompanho em pensamentos aflitos. A água que te falta, o sono que adia, a comida que te suprimem também compõem parte de minha agonia. Em tuas marchas, pés com bolhas, rosto pintado, faca na mão, também lá estou desbravando contigo suas missões. Jamais te deixo só, com meu coração te sigo feito sombra em dias de sol e vagalumes nas noites de negrume intenso. Os grilos cantam no silêncio e você se aproveita do escuro para se tornar invisível com sua camuflagem. Mas te vejo, sempre te vejo com meus olhos que enxergam distantes tuas privações. 

São tantos dias de campo. Eu aqui sozinha, inquieta e agoniada. Tu aí, marchando em fuga, seguindo suas estratégias, seus cálculos, suas missões. Uma semana bem maior que um ano inteiro. Uma hora, enfim, sempre acaba. E me apareces assim, lindo e de repente. Já de longe te avisto na rua, coração na boca, alma nos olhos. Transbordo, sem conter, e num riso, num choro, numa explosão, abro os braços.
Você, meu guerreiro, diante de tanta bravura, aí, dentro desta farda engomada, se despe da força e volta a ser menino. Sinto a respiração sufocada no abraço silencioso.

Jogado na cama, adormece desfalecido de dor. E me deixa sozinha com sua imagem. Queria te ouvir, te olhar, me tocar. Mas só pode oferecer seu corpo esvaziado de toda energia. Sinto nas mãos o rossar do cabelo raspado e sorrio. Tantos dias que se arrastaram solitários até eu poder te ver assim, frágil, meu. Nas mãos tantos calos, farpas de madeira, cortes. As pernas cheias de picadas de carrapato e de formigas. Rosto magro. Calos nos ombros por causa das caminhadas com mochila. Queixo esfolado pelo capacete. Meu Deus, o que fizeram com você?

Abro o guarda roupa e busco um lençol. Te cubro com a delicadeza de quem teme te despertar da paz de um sono pesado. Sua farda pendurada no cabide me faz pensar em quanto sofrimento deve-se suportar para ter a honra de vestí-la. Porém, esse é o destino que escolheu e como meu coração também te escolheu, só me resta cuidar de você para sempre. Essa será minha silenciosa missão.


2 comentários:

  1. Que bonito! Você que escreveu isso?

    Dá uma olhada nesse link sobre palavras de verificação:

    http://fernandareali.blogspot.com/2010/09/odeio-verificacao-de-palavras.html

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  2. Não, eu não escrevi esse texto. Achei na internet e não tinha o nome do autor e achei bonito e por isso escrevi.

    Esse negócio de verificação tb acho chato, mas enfim...depois vejo isso

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